TEXTO DE ÂNGELA RODRIGUES -JORNAL DE FATO.LEIA!!
Aplausos para a escritora , Angela Rodrigues que escreveu com maestria no Espaço Jornalista Martins de Vaconscelos sobre “Afinal, o que é, realmente essencial?”.O texto é grande, mas o texto nos convida a ler.
EIS O TEXTO .
Afinal, o que é, realmente, essencial?Segundo o Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, ES-SEN-CI-AL é um adjetivo de dois gêneros que constitui a parte necessária de algo; indispensável. É a parte fundamental de alguma coisa; aquilo que é inerente de algo ou de alguém; crucial; útil, básico, vital, imperioso, inato, primordial, substancial, indeclinável, necessário, impreterível, imprescindível, etc… Temos acompanhado, a todo momento, discussões sobre o que é essencial e que serviços devem funcionar nestes tempos de medidas restritivas. Igrejas. Escolas. Academias. Bares. Economia. E segue a lista. A disputa para entrar na lista dos “serviços essenciais” já virou batalha judicial. Em suas defesas fervorosas cada setor tenta justificar a importância de seu “segmento”, seja para economia ou para uma vida saudável. Sim, todos precisamos de saúde, segurança, educação, lazer, moradia, trabalho, espiritualidade. Sim, todos esses, e outros serviços, são essenciais. Mas para eles existirem é preciso que estejamos VIVOS. Se ainda estamos discutindo sobre isso é porque, lá atrás, esquecemos de dar ouvidos ao chamado pela vida. Ignoramos a gravidade do momento. Agimos de forma sutil diante de um inimigo letal. Criamos condições favoráveis para multiplicação de um vírus mortal que, diante de nossa cegueira, mostrou seu poder de destruição. Enquanto discutimos o que deve permanecer aberto ou ser fechado ele entra nos lares, igrejas, escolas, academias, bares/restaurantes, supermercados, bancos, praias, hotéis, aeroportos, rodoviárias e leva com ele muitas vidas. Destrói famílias, sepulta sonhos. Faz vítimas de todas as idades, gêneros, etnias e classes sociais. Mas o que é essencial, afinal? Eu, leiga em todos os assuntos, continuo acreditando que o mais importante, neste momento, é fazer TUDO que for possível para preservar a VIDA. Estar vivo para ir e vir. Ter saúde para estudar, divertir-se, passear, trabalhar, sonhar. Não adianta termos os serviços sem condições e/ou saúde para usufruí-los. Numa pandemia, como numa guerra, creio que o mais urgente é combater o inimigo. Isso é essencial para proteger a vida. Não dá para escolher o que importa mais. Tudo importa. Todos importam. Enquanto lá fora está sendo questionado o que é essencial eu fico aqui pensando que “o essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint Exupery, O Pequeno Príncipe). O que realmente importa é o que torna significativa a nossa experiência neste mundo. Se não somos capazes de ver o mundo como um lugar que deve abrigar, proteger e respeitar a vida nunca estaremos preparados para defender toda diversidade nela contida. Como lidar com o sentido da vida, do amor, da amizade, da solidão, da perda se somos incapazes de respeitar as diretrizes que tentam proteger nosso bem mais sagrado? Se somos incapazes de sentir empatia e solidariedade? O mais dolorido é que enquanto seguimos indiferentes aos perigos a vida se apaga nos leitos de hospitais. Os abraços morrem presos ao corpo que não pode abraçar o outro, o sorriso emudece atrás as máscaras, os olhos, acostumados a sorrir, choram com mais frequência a partida de pessoas amadas. Estamos adiando sonhos, desenvolvendo ansiedades e lutando com todas as forças para não perdermos a esperança, afinal, como disse Erich Fromm, “ter esperanças é uma condição essencial de ser humano”. E mesmo a arte, que sempre nos salva de tudo, até de nós mesmos, em alguns momentos não tem dado conta de preencher todos os espaços esvaziados pelo isolamento social. Estamos sedentos de abraços. Famintos de presenças, risadas, encontros casuais e programados. Existe um vazio trazido pela pandemia que nem a literatura, a música, ou qualquer outra arte, com toda sua grandeza e importância consegue preencher. Não nego que são elas, as artes, que tem jogado um pouco de cor e luz nesse “circo de horrores”. Através delas podemos ver que para além desse cenário de medo e insegurança, parece existir um fio de lucidez que nos insere nesse contexto e nos revela as profundas contradições dos sentimentos humanos, onde parece ficar claro que o essencial não tem nome, cor, cheiro ou forma e apresenta-se como um arrebatamento capaz de nos salvar de tudo que rouba nossa liberdade ou nos condenar a eterna solidão. Com ou sem pandemia!https://defato.com/edicoes/2711/6036